segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Respostas da natureza


Os estragos da tempestade de neve na Grã-Bretanha, Suécia, França e outros países do oeste da Europa voltaram a demonstrar a vulnerabilidade das comunicações e a submissão da economia às regras da natureza. Passageiros retidos nas estradas, viajantes incomunicáveis nos aeroportos e a vida cotidiana convulsionada pela neve mostraram que, inclusive nos países mais avançados, a defesa civil pode apenas oferecer cuidados paliativos frente aos efeitos de fenômenos meteorológicos extremos. "É como se, em um mundo cada vez mais tecnológico, a natureza relembrasse nossos próprios limites", disse o filósofo e ensaísta Jordi Pigem. O homem tentou progredir submetendo a natureza a um domínio contínuo. Quis domá-la. Explorou as florestas e subiu no último pico do mundo; foi capaz de chegar ao fundo do oceano e penetrar no espaço e na física. Sua superioridade sobre os outros congêneres do planeta o levou a convencer-se que pode domar a Terra e causar-lhe todo tipo de impacto. Mas sua ousadia o leva às vezes a ignorar sua fragilidade.
E isso o deixa perplexo. Assim, na semana passada, inesperadamente, alguns jovens espanhóis permaneceram presos vários dias no aeroporto de Bruxelas, com uma atitude confusa. "Nos disseram que havia acabado o líquido anticongelante dos aviões e por isso não sabemos quando poderemos decolar; não sabemos quando regressaremos a Barcelona", disse um deles por telefone. 
Sua estranheza resume até que ponto temos ignorado nossos próprios limites. Surpreende que a falta de líquido anticongelante feche um aeroporto europeu, mas esse fato ratifica que a fraqueza diante da natureza iguala os países europeus, os do Norte e os do Sul. 
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A frustrante espera em um aeroporto serve de metáfora da vã tentativa de superar as limitações que não conseguimos vencer. Da mesma forma, cada vez mais buscamos petróleo em lugares mais recônditos e remotos, porque o petróleo em zonas acessíveis já foi consumido. E essa luta na fronteira do possível causou o acidente da plataforma do Golfo do México. Também sabemos que estamos a ponto de exceder as outras fronteiras do equilíbrio do planeta, ao forçar a mudança climática (com as emissões de gases do efeito estufa) ou ao causar o desaparecimento de espécies.
O fato de que estejamos alterando a composição e a dinâmica da atmosfera faz prever mais fenômenos meteorológicos extremos como os que tivemos nas últimas décadas, recordam os meteorologistas, e nos quais podem ser incluídos essas tempestades. 
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Fenômenos geológicos como o vulcão da Islândia nos lembram que, por mais que queiramos, a natureza escapa de nosso controle. E ainda que saibamos muito mais sobre como funciona a dinâmica física da Terra, sempre há novas incógnitas que nos revelam todo o que não sabemos. 
Fonte: Veja

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